Joaquim Paulo de Araújo abandonou Cabo Verde em 1923 para trabalhar como marítimo, mas acabou por se fixar na Bélgica. 

Naquele país casou com a belga Maria Van Zilante Toock. Comprou um camião por 45 mil francos e envolveu-se no transporte de gado para o matadouro de Charleroi, cidade onde vivia. 

Com este negócio juntou dinheiro e conseguiu também montar um hotel que era gerido pela mulher. 

Quando os alemães invadiram a Bélgica, Joaquim de Araújo fugiu em direcção à fronteira francesa com a mulher, duas filhas gémeas de 13 anos e os sogros. A mulher foi morta durante um ataque aéreo e, já em França, outro bombardeamento dispersou a família. 

Acreditando que tanto as filhas como os sogros tinham morrido, vagueou pela França e Bélgica acabando por regressar a casa, onde os reencontrou sãos e salvos. Os alemães tinham-nos repatriado.

Os alemães confiscaram-lhe o camião. Foi preso e internado num campo de concentração durante cerca de meio ano. Nesse período saiu diversas vezes para trabalhar nos campos de agricultores alemães, uma actividade que ocupava muitos dos prisioneiros. A certa altura conseguiu escapar para ser de novo capturado perto de Paris e voltar a ser internado durante quase um ano. Foi durante este internamento em que um cônsul português conseguiu repatriá-lo.

Em 1944, com 38 anos, vivia em Lisboa numa pensão na travessa das Pedras Negras, sem saber do paradeiro das filhas ou dos sogros. Mantinha-se através da caridade do estado e de amigos. 

A sua história foi contada em fevereiro de 1944 a vários jornalistas portugueses que se tinham deslocado à estação de Santa Apolônia para receber alguns marítimos portugueses que tinham estado aprisionados na Alemanha. Joaquim de Araújo conhecia um deles e os jornais acabaram também por dar alguns detalhes da sua história.

Carlos Guerreiro