Tripulantes do Manaar chegando a Lisboa
(Foto: Revista "A Ilustração", 16 Setembro de 1939)
Carvalho Araújo
(Portugal)
Capitão:
Tipo: Vapor de Passageiros
Tonelagem: 4559 Ton
Proprietário: Empresa Insulana de Navegação
Porto: Lisboa
Construção: Belfast, 1915
Acontecimento: Salvou 16 tripulantes do Manaar
O “Carvalho Araújo” estava de regresso a Lisboa quando, pelas três da madrugada do dia 7 de Setembro de 1939, o oficial de quarto avistou no horizonte um very-light vermelho que fez o navio desviar-se da sua rota.
Pouco depois encontravam uma baleeira com 16 homens a bordo, todos indianos, tripulantes do cargueiro britânico “Manaar”, afundado horas antes pelo submarino U-38. Foram paradas as máquinas e descida a escada quebra-costas para permitir que subissem a bordo. Apesar da hora matinal houve vários passageiros que acordaram e acompanharam a operação de resgate.
A baleeira foi abandonada e como os náufragos asseguravam que existiam outros salva-vidas nas imediações o comandante do navio português fez alguns desvios de rota na tentativa de os encontrar. Sem sucesso.
Receberam comida quente, um local para dormirem e na tarde do mesmo dia o “Carvalho Araújo” entrava no Tejo entregando os homens que tinha recolhido às autoridades. Três apresentavam ferimentos, recebendo um primeiro tratamento a bordo pelo doutor Alberto MacBride, que fora médico do Corpo Expedicionário Português durante a I Guerra Mundial na Flandres e dois deles, Allie Hissain e S. R. Abass, seguiram numa viatura dos Bombeiros Lisbonenses para o Hospital Inglês de Lisboa devido à gravidade dos ferimentos causados por estilhaços.
Segundo o Diário de Lisboa estes foram os primeiros feridos da II Guerra Mundial tratados em território português e foram também os primeiros náufragos recolhidos por um navio português durante o conflito. Não seriam, no entanto, os primeiros que chegaram a Lisboa. No dia anterior o Tejo tinha assistido à chegada do norueguês “Eidanger” com sobreviventes do “Bósnia”, afundado ao largo da costa portuguesa e, horas antes da entrada o “Carvalho Araújo”, por volta das 11 tinha aportado também a Lisboa, o cargueiro holandês “Mars”, com outros 30 sobreviventes do “Manaar”, entre eles o capitão e o operador de rádio que viria a ser distinguido pela sua acção durante o confronto com o submarino.
Dos setenta tripulantes sete morreram e 63 foram salvos.
O afundamento do “Manaar”
Os jornais portugueses do dia relatam um combate desigual que a certa altura envolveu quatro submarinos alemães a disparar em simultâneo sobre o “Manaar”, mas o que realmente aconteceu – segundo os relatórios oficiais – está longe de ter sido tão épico.
Ao raiar do dia 6 de Setembro o comandante do “Manaar” tinha avistado a bombordo a torre do submarino U-38, depois de uma noite em que tinha navegado aos zig-zags. O U-boat encontrava-se numa rota convergente e 70 a 75 milhas a oeste do Cabo da Roca deu-se o ataque a tiro de canhão.
A tripulação do cargueiro já se encontrava a postos quando o U-38 deu início ao ataque, mas de pouco lhes serviu. Um dos obuses disparados atingiu a ponte a bombordo destruindo o equipamento de rádio que ali se encontrava, evitando que o ataque fosse reportado. Os artilheiros britânicos tinham a bordo um recém-instalado canhão, mas o único disparo que fizeram ficou a cerca de um terço da distância que separava as duas embarcação, mostrando que não valia a pena insistir.
Seis disparos atingiram diversos pontos do navio em sucessão e o comandante deu ordem para que este fosse abandonado. Quando desciam para a baleeira nº 4 rebentou um óbus nas proximidades que matou dois tripulantes e levou os outros dezasseis que já estavam a bordo – todos indianos - a afastar-se para o largo. Seriam salvos pelo Carvalho Araújo.
Na baleeira nº 3 embarcaram o comandante, alguns oficiais e diversos tripulantes de origem britânica e indiana. Esquecido ficou o oficial de comunicações Turner que tentava utilizar o rádio de recurso para enviar a mensagem de que estavam a ser atacados. Quando este surgiu na coberta ajudando Abdoul Nobie, que se encontrava ferido, o comandante tentou resgatá-los, só que teve dificuldades em aproximar-se.
Como as duas baleeiras da ponte ainda se encontravam presas a bordo Turner e um outro marinheiro não identificado tentaram baixá-las. Primeiro a de estibordo, mas uma avaria atirou a embarcação para a água e esta ficou parcialmente submersa.
Dirigiram-se por isso à outra que, quando estava próxima da água, foi atingida pela explosão de um torpedo disparado pelo submersível. O impacto destruiu o salva-vidas, matou o marinheiro que se encontrava a bordo orientando a manobra, e varreu o convés atirando Turner e Nobie para o outro lado do navio.
Quando voltaram a si verificaram que a primeira baleeira, apesar de inundada, ainda flutuava e continuava presa ao navio. Conseguiram descer até ela e cortaram os cabos, momento em que novo torpedo explodiu lançando destroços para cima da embarcação e dos dois homens. Seriam depois recolhidos pelo comandante numa altura em que Nobie, devido aos ferimentos estava dentro do salva-vidas que era “rebocado” por Turner que nadava tentando afastar-se do navio que se afundava.
Pelos seus atos Turner viria a receber a Empire Gallantry Medal, sendo um dos primeiros homem da marinha mercante a ser distinguido com este galardão na II Guerra Mundial.
No total foram quatro baleeiras que se conseguiram afastar-se do Manaar sendo que a nº3 foi recolhida pelo “Mars” e as restantes pelos italianos “Castelbianco”, que deixou os náufragos em Gibraltar, e pelo Traviata, que os transportou até Cardiff, no Reino Unido.
C. G.
Manaar
(Grã-Bretanha)
Capitão: Campell Shaw
Tipo: Vapor mercante
Tonelagem: 7,242 Ton
Proprietário: T&J Brokelbank, Ldt
Porto: Liverpool
Construção: GB, 1917
Destino: Torpedeado a 06/09/1939 pelo U-38
Fontes/ Resources:
- Archives/Arquivos: Arquivos Nacionais Torre do Tombo (PT); National Archives UK, Kew (GB); Arquivo Histórico da Marinha (PT); Arquivo Histórico do MNE (PT); Hemeroteca de Lisboa (PT);
- Sites: uboat.net; wreksite.eu;
- Books & Publications : Shipping Company Losses of the second World War, Ian M. Malcolm; Navios da Marinha Portuguesa, datas 1939 a 1945;