Luz, Carlos de Almeida Lopes da

 

 

Navio – Ballot (Panamá) & Induna (GB)

Local de Nascimento  – Ericeira
Data de Nascimento – 

Data de Falecimento – 
Pai – Custódio da Luz
Mãe – Maria da Nazaré Lopes da Luz

Notícia sobre Carlos Luz publicada no jornal "Diário de Lisboa" sobre a sua chegada a Lisboa

No dia 31 de outubro de 1944 desembarcava do paquete Niassa, acabado de chegar a Lisboa vindo dos EUA, o marítimo português Carlos de Almeida Lopes da Luz, com 30 anos, que não conseguia passar despercebido, tanto pelo facto de ter á espera um grupo de jornalistas, como pelo aspecto físico. Não tinha pés ou mãos “usando em seu lugar aparelhos com os quais anda, fuma, agarra e procede a diversas operações”, descreveu então o Diário de Lisboa.

Carlos Luz regressava a casa, no Beco da Lapa 52, em Lisboa, onde era esperado pela mulher Zaida dos Santos da Costa Luz e pela filha de seis anos, depois de três anos de ausência que o tinham levado de Portugal para os EUA e dali para os mares gelados da Rússia, onde perdera para o frio as extremidades dos membros.

Quando no dia 17 de Novembro de 1941 saiu de Lisboa para Nova Iorque como tripulante do Serpa Pinto, da Companhia Colonial de Navegação, já decidira desertar para procurar melhores condições de vida. Em Portugal os ordenados dos marítimos eram baixos, as promessas de futuro escassas e por isso era recorrente a deserção destes homens quando chegavam aos EUA.

O número de deserções era por vezes tão elevado que alguns navios foram obrigados a adiar as partidas por falta de pessoal… 

Mal saiu do Serpa Pinto dirigiu-se aos escritórios da Lykes Brothers Steamship Company, decidido certamente a melhorar a sua vida e a da família. Em Novembro de 1941 os EUA eram ainda neutrais, mas poucas semanas depois os japoneses atacaram Peal Harbor e Carlos Luz viu-se subitamente enredado numa guerra mundial.

A16 de março do ano seguinte, em Reiquiavique, na Islândia, o português - agora tripulante do navio com bandeira panamiana  Ballot - integrou o comboio PQ-13 com destino a Murmansk, na Rússia. Os comboios do Ártico - que asseguraram o fornecimento de material de guerra, especialmente americano, aos russos - ficaram conhecidos pela sua dureza, condições climáticas inclementes e exposição aos ataques alemães.

A 24 de março o PQ-13 foi atingido por uma tempestade que dispersou os 19 navios mercantes e as quatros escoltas que ficaram divididas em dois grupos, com quatro unidades a navegarem de forma independente. A 28 foram avistados por aviões alemães que realizaram um primeiro ataque e afundaram duas embarcações. O Ballot também foi atingido e Carlos Luz, com outros 15 tripulantes, entre eles mais um português, deixaram o navio. O comandante diria mais que aquele grupo exigiu sair pois ele nunca deu a ordem de abandono. 

O Ballot foi reparado pelos tripulantes que ficaram a bordo e prosseguiu até ao porto russo de Murmansk onde chegou dois dias depois.

Entretanto a baleeira foi recolhida por uma das escoltas - o HMS Silja - e os homens foram reembarcados no mercante britânico Induna, mas os dois navios ficaram presos no gelo enquanto o resto da frota continuou viagem. Libertar as embarcações foi trabalho para várias horas.

No dia seguinte foram apanhados por nova tempestade que os voltou a separar.

A 30 de março o Induna foi torpedeado pelo U-367, pegou fogo e afundou-se. Entre os que vinham a bordo 41 conseguiram escapar em dois salva-vidas. Carlos Luz estava entre eles e, uma notícia de jornal, refere a presença de outro português chamado José Arruda, de Espinho, que terá morrido devido à exposição ao frio. 

Um site da especialidade apesar de não referir José Arruda, assegura que entre as vítimas mortais se contava o português Avelino da Silva Larangeira (possivelmente Laranjeira), de 45 anos.

Um draga-minas russo encontrou os salva-vidas a 2 de abril quando já tinham morrido 11 ocupantes. Mais dois morreram no hospital onde quase todos mostravam sinais da exposição a ventos gelados que chegaram aos 20 graus negativos. Muitos perderam pés ou mãos.

A Carlos Luz foram amputados ambos os pés e mãos ao longo de vários meses e após várias intervenções cirúrgicas. Regressou a Nova Iorque onde passou a usar aparelhos ortopédicos que lhe permitiram andar e agarrar.

Até 1944 ficou a aguardar decisão sobre uma indemnização, mas quando chegou a Portugal em outubro de 1944 essa questão ainda não estava resolvida. 

A sua historiara foi conhecida em Portugal em finais de 1943, quando os jornais contaram as suas desventuras.

Quando o Niassa o deixou no cais, ele foi interceptado por elementos da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE) que lhe lembraram a deserção do Serpa Pinto. Deixaram-no ir para casa - talvez devido à presença dos jornalistas ou, segundo os jornais, “atendendo às circunstâncias físicas” -, com obrigação de se apresentar no dia seguinte na sede daquela polícia.

Não foi possível apurar o resultado da deslocação à PVDE ou se a indemnização pedida à companhia foi paga.

 

Carlos Guerreiro

Fontes

Induna - uboat.net  §  Diário de Lisboa  §  Diário de Notícias  §  O Século