O “Cunene” recolheu os sobreviventes do norueguês “Svenør”

O Cunene

O Cunene
(Foto: Navios e Navegadores)

Cunene
(Portugal)

Capitão: António Pinto e Neto
Tipo: Vapor de Carga
Tonelagem: 5875 TB
Proprietário: Sociedade Geral 

Porto: Lisboa
Construção: Flensburger Schiffsbau, Flensburg, Alemanha (1911)

O Cunene navegava entre Lisboa e Filadélfia, nos EUA, quando na madrugada de 27 de março de 1942 a tripulação avistou diversos clarões à distância. Mudado o rumo encontraram uma extensa mancha de óleo e também um u-boat que emergiu 30 metros a bombordo com o comandante a inquirir primeiro se havia correio a bordo e, quando a resposta foi negativa, a indicar aos portugueses que a Sudoeste estavam duas ou três baleeiras com náufragos. 

Um marinheiro subiu ao mastro principal do Cunene e avistou uma pequena vela, que pertencia a uma baleeira, com 15 náufragos do petroleiro norueguês Svenør. Apesar de não saberem de outro salva-vidas as buscas continuaram e pouco depois avistou-se novo bote com 14 pessoas, entre os quais o contramestre que assegurou que não valia a pena continuar pois os restantes tinham sido carbonizados, incluindo o comandante. À chegada a Filadélfia foram entregues ao cônsul da Noruega. 

Na sequência deste salvamento o Cunene sofreu uma apertada vigilância e perseguição pelas autoridades americanas. Num relatório entregue pelo capitão Arruda em Lisboa, é explicado que o contacto com o submarino era olhado com suspeita e se ninguém negava o encontro em mar alto também não percebiam como o poderiam ter evitado. Os americanos, por seu lado, alegavam que o capitão português tinha dado respostas evasivas durante o inquérito preliminar, apresentando uma versão diferente dos tripulantes. Oficiais da marinha dos EUA, acompanhados de tradutores, prolongaram os interrogatórios por três dias e Arruda foi questionado repetidamente. 

Poucos tempo antes tinham sido detidos espiões alemães deixados por uboat na costa americana e o pânico e a suspeita estava instalada entre as autoridades norte-americanas.

Os americanos proibiram os portugueses de fumar no convés, tanto de dia como de noite; cortaram para metade a requisição de peixe fresco com “receio” que fosse entregue a um submarino inimigo; requereram burocracia extra para autorizar a saída. Em Norfolk, para onde seguiram após Filadélfia, tiveram guarda armada durante toda a estadia. Ninguém podia sair com excepção do capitão que, à saída e à entrada, era sempre revistado. Antes de zarpar foram alvo de novos interrogatórios e também buscas aos alojamentos.

O navio saiu de Norfolk  no dia 10 de abril de 1942 e, curiosamente, dois dias depois encontrou mais doze náufragos de um outro petroleiro norueguês, o Koll.

O Svenør tinha partido de Curaçau a 17 de março de 1942 com 11.440 toneladas de fuelóleo, e deveria juntar-se a um comboio em Halifax, no Canadá, mas ao princípio da tarde do dia 27 foi atingido por dois torpedos disparados pelo U-105. Os sobreviventes escaparam em dois salva-vidas. O submarino, já à superfície, disparou mais um torpedo, mas para afundar o Svenør teve de fazer meia centena de disparos com o canhão. Oito pessoas morreram e 29 sobreviveram.

O Cunene foi avistado pouco depois. 

Carlos Guerreiro

Svenør
(Noruega)

Capitão: Hans N. Thormodsen
Tipo: Navio Tanque
Tonelagem: 7616 TB
Proprietário: S. Ugelstad, Oslo

Porto: Oslo
Construção: Swan, Hunter & Wigham Richardson Ltd, Walker-on-Tyne, UK (1931)




Fontes:

National Archives UK, Kew (GB)  §  Arquivo Histórico da Marinha (PT)  § Arquivo Histórico do MNE (PT)  §  uboat.net  § Wreksite.eu  §  Navios e Navegadores  §  Warsailors.com  §   EricWiberg.com  § Lista dos Navios da Marinha Portuguesa, datas 1939 a 1945  §