O NRP Bartolomeu Dias encontrou sobreviventes do Dagomba

O NRP Bartolomeu Dias a dobrar o Cabo da Boa Esperança sob mau tempo em Dezembro de 1942

O NRP Bartolomeu Dias a dobrar o Cabo da Boa Esperança sob mau tempo em Dezembro de 1942
(Foto: Colecção privada/ Autor desconhecido)

NRP Bartolomeu Dias
(Portugal)

Capitão: Capitão de Mar e Guerra Caetano Coucello
Tipo: Aviso
Tonelagem: 2475 Tb
Proprietário: Marinha de Guerra Portuguesa
Porto: Lisboa
Construção: Hawthorne Leslie, Newcastle, GB (1935)

Na noite de 13 de novembro de 1942 o oficial de quarto a bordo do aviso português NRP Bartolomeu Dias avistou por estibordo uma luz vermelha à distancia de cerca de uma milha. A luminosidade avistou-se por poucos segundos, mas foi o suficiente para o navio reforçar o estado de alerta e vigilância.

Durante bastante tempo não viram mais nada, mas pela meia noite voltaram a ser vistas luzes brancas e difusas. Pouco depois assinalaram-se novos lampejos vermelhos, mas sem que se percebesse a distância a que se encontravam. Ligou-se o projetor da proa e o navio foi parado durante um quarto de hora, mas nada conseguiram ver ou ouvir. Por segurança o comandante, Capitão de Mar e Guerra Caetano Coucello, afastou-se para voltar de madrugada e averiguar origem do que tinham visto.

Pouco depois das cinco da manhã estavam de regresso e quando acenderam o projector receberam como resposta uma luz branca, 30 graus a bombordo, para onde o Bartolomeu Dias aproou. Apesar de um aguaceiro súbito ter turvado a visibilidade foi possível assinalar, à distância, um ponto que cresceu até se transformar numa baleeira com 21 homens que soltaram“hurras” fracos enquanto o aviso executou manobras para a sua recolha. Devido ao estado de debilidade em que se encontravam tiveram de ser ajudados a subir e dois foram carregados em braços pelos marinheiros portugueses. Todos pertenciam à tripulação do britânico Dagomba.

Após subirem a bordo foram encaminhados para a enfermaria onde receberam cuidados médicos para tratar queimaduras solares, feridas infectadas, furúnculos, etc… . Sete mereceram cuidados redobrados do médico e um, o comissário Bunnett, ficou internado devido á gravidade da sua situação. Já no salva-vidas tinha tido episódios de alucinação, só não se atirando à água porque os companheiros o impediram. Com “queimaduras, escoriações contusões e feridas, tudo infectado, em toda a região posterior do corpo” - como constata o relatório médico do Bartolomeu Dias - viria a falecer na mesma tarde, tendo o corpo sido lançado ao mar no dia seguinte durante uma cerimónia que cumpriu todas as formalidades legais. Também o capitão se apresentava num estado “desregulado” e só à força a tripulação o tinha chamado à razão no salva-vidas.

Verificou-se posteriormente que a lâmpada vermelha usada para fazer sinais de socorro tinha tido apenas bateria por poucos segundos, tendo sido uma sorte o seu avistamento pelo Bartolomeu Dias. A luz que se vira de madrugada resultara da queima de estopa e papéis dentro de um balde que a chuva tinha apagado rapidamente.

Os 20 náufragos foram deixados no porto de Luanda, em Angola, a 23 de novembro. Três dias depois embarcaram no vapor Angola que fez um desvio para Freetown onde foram deixados a 30.

O Dagomba viajava só quando, às 18 horas do dia 3 de novembro de 1942, foi atingido quase em simultâneo por três torpedos disparados pelo submarino italiano C. Os tripulantes abandonaram-no nas duas baleeiras de bombordo já que o par que se encontrava a estibordo ficora destruído pelas explosões. O submarino emergiu próximo e um dos oficiais tentou saber se alguém estava ferido; depois forneceu-lhes a localização, água, cigarros, latas de carne e biscoitos. 

Durante algumas horas os salva-vidas viajaram juntos mas durante a noite deixaram de se ver. Uma foi recolhida pelo Bartolomeu Dias a 13 de novembro e a outra tinha sido encontrada dois  dias antes pelo aviso francês Annamite, leal a Vichy, que internou a tripulação em Dakar, no Senegal, até que os americanos ali desembarcaram dias depois.

Carlos Guerreiro 

Dagomba
(GB)

Capitão: John Tate Marshall
Tipo: Mercante a Motor
Tonelagem: 3845 Tb
Proprietário: Eastern & Australian Steam Ship Co. Ltd

Porto: Londres
Construção: Mcmillan A. & Son Ltd. - Archibald Mcmillan (1928)




Fontes:

National Archives UK, Kew (GB)  §  Arquivo Histórico da Marinha (PT)  §  Arquivo Histórico do MNE (PT)  §  NARA (USA)  §  Alan J. Tennent, British and Commonwealth merchant ship Losses to Axis submarines 1939-1945, Gloucestershire, Sutton Publishing  §  Ian M. Malcolm, Shipping Company Losses of the Second World War, Gloucestershire, The History Press, 2013